quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Ontem à noite deu-me para escrever...


Não ando lá muito bem. Não sei para onde fugiu a minha boa disposição. Sou do signo Peixes. Não é que acredite muito nessas coisas, mas há quem diga que as pessoas deste signo são triste, deprimidas por natureza, vivem demasiado os problemas dos outros e acabam por se esquecerem de tomar conta delas mesmas.
E sim, eu sou um bocado assim, principalmente no que toca aos problemas dos outros. Sinto que tenho de ajudar todos os que me rodeiam, e quando alguém de quem eu gosto tem um problema e eu nada posso fazer para o ajudar, sinto-me impotente.
Tenho dias em que acredito que sou capaz de mudar o mundo e irrita-me quando quase fazem troça de mim ao dizerem-me que sonho muito alto. Mas a verdade é que a maioria das pessoas com quem lido diariamente não passam de uma cambada de futeis, cagões e com a mania das grandezas que só se preocupam com eles mesmos, e com o seu status e que infelizmente não passam de mais uns alpinistas sociais iguais a tantos outros.
Por vezes sinto dificuldade em encontrar-me nesta sociedade.
A minha familia paterna mora toda no Canadá. E todos eles são naturais de lá. O meu pai optou por vir morar para cá. Apaixonou-se pelo clima, pela tradição e encantou-se pelo Alentejo onde mora há mais de 25 anos.
Grande parte das minhas férias de Verão foram passadas nesse tal país, considerado há pouco anos o melhor do mundo. A atribuição deste "título" se assim lhe quiserem chamar baseia-se no conceito de qualidade de vida. E posso-vos dizer que se um dia por algum motivo quiser deixar Portugal, é para o Canadá que quero ir morar.
É um país de um civismo incalculavel. Não se vê lixo nas ruas: não há pastilhas elásticas, beatas, restos de comida, nada! E não que haja mais caixotes do lixo lá. Nada disso. As pessoas é que têm uma educação diferente e um civismo mais apurado e na verdade quando algum tipo de autoridade assiste a alguém a atirar o que quer que seja para o chão, pode-lhe passar uma multa.
As pessoas são muito humanas também. Os poucos sem abrigos que já pude ver lá, estão sempre rodeados de pessoas prontas a ajudá-los. Só é sem abrigo quem o quer continuar a ser. O governo tem imensos mecanismos preparadas para lidar com estas situações. E não se vêm tantos sem-abrigos como cá. E os que o são, regra geral, são jovens adolescentes que por este ou por outro motivo saiem de casa dos pais, mas que pouco tempo depois acabam por ser convencidos a regressar a casa, pelas organizações que já mencionei.
Quando cá só se falava da reciclagem do vidro, lá já a minha avó me chamava à atenção para a separação do lixo.
Não é um país perfeito pois tudo tem as suas lacunas.
Também há bairros sociais. Não são de lata. São casas normais, não tão boas como as outras, mas com o tudo aquilo o que é essencial. Normalmente habitados por imigrantes ilegais que se juntam a familiares já legalizados. Quando há pouco se falou nas noticias dos portugueses que foram extraditados, muitos foram aqueles que me vieram dizer: "Ah, já viste tu que dizes tão bem do Canadá..." Oh meus amigos, não me venham com histórias por favor. Foram extraditados, porque era imigrantes ilegais. Os processos de legalização e nacionalização no Canadá não são como em Portugal e lá só não se legaliza quem não quer até porque há uma interminável lista de apoios a estas situações.
E também não me venham dizer: "Então se aquilo é assim tão bom, muda-te para lá!".
Eu ADORO Portugal. Adoro as nossas tradições, os nossos queijos, os nossos enchidos, o pão e o azeite, a nossa história, o nosso mar. As velhinhas vestidas de preto no Alentejo, com um chapéu de palha na cabeça, que fazem renda, sentadas em pequenos bancos à porta de casa, ou nos degraus, aproveitando o sol depois do almoço, para porem as novidades da aldeia em dia. Os santos populares e as festas das aldeias e ir para o meio do mato nas noites quentes e estreladas de Verão beber vinho tinho e fumar cigarros e afins...
Quando estou em casa dos meus pais, adoro sair da piscina e ir ainda de fato de banho, apanhar figos e amoras e comê-los ali mesmo, ainda quentes e ouvir a minha mãe ao fundo da estrada de terra batida a gritar: "Não comam isso assim que vos faz mal!".
Não troco estas coisas por nada.
Mas quer dizer... estou a constatar factos e acho o português de hoje em dia, pouco humano e com um civismo que deixa muito a desejar. Não é o país que é mau. As pessoas é que são muito fechadas/ limitadas e não vão além daquilo que é importante para elas.

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