quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Um dia conheci...



...duas pessoas, um casal. Ela amava-o como nunca amara ninguém. Era dorminhoca mas, muito activa quando acordada, muito organizada, gostava de fazer render o seu tempo, e nunca deixava para amanhã o que podia ser feito hoje. Ele também a amava. Pelos menos era o que parecia, eu conhecia-o pior que a ela. Ele tinha uma história de vida complicada. E ela sabia-o e mesmo assim fez de tudo por ele na esperança que um dia essa complicada história se resolvesse. Ele sabia da angústia dela, e prometia que era amanhã, e nesse dia, dizia que seria no outro e por aí fora. No entanto ela começou a sentir-se cansada, saturada, enganada. E todos os argumentos que ele usava em sua defesa não eram suficientes. Ela sabia que não merecia o que estava a passar e por muito que gostasse dele, sabia que há alturas na vida em que temos de ser egoístas e reconhecer o que de facto é realmente importante para nós, para a nossa serenidade e para o nosso bem-estar, mesmo que isso nos custe um desgosto de amor.
Ela implorava, pedia, chorava, já mal dormia, avisava, avisava e tornava a avisar e cada palavra dela, cada carta que ela lhe escrevia perdiam-se no esquecimento dele. Ela começou a sentir que já não o conhecia. E como se pode amar alguém sem o conhecer? Ela disse-lhe que as coisas continuassem a seguir aquele rumo o fim estaria próximo e perguntou-lhe se ele tinha alguma coisa para dizer. Ele respondeu uma vez mais que tinham velocidades, feitios, ideais e maneiras de ver as coisas diferentes. Ela optou por dar-lhe razão para evitar discutir. Foi-se deitar e chorou a noite a toda. Na manhã seguinte acordou ainda pior. A angústia e o desespero da imcompreensão de que era vítima corria-lhe o peito, a mente. Ela já não aguentava mais, e perguntava-lhe se eram verdade todas as coisas que ele lhe prometia. E ainda lhe dizia que preferia ouvir a verdade na altura, por muito que ele soubesse o quanto a ia magoar, a prolongar aquele sofrimento, a aumentar a desconfiança. Ele respondia-lhe que tinham velocidades, feitios, ideais e maneiras de ver as coisas diferentes. Ela avisou. Ele nunca ouviu. Nunca mais os vi.

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