quarta-feira, 13 de julho de 2011


Um lugar no tempo. Uma manhã. Esponjar-me numa cama grande, enquanto a brisa fresca da manhã entra pela janela e serenamente abraça-me.


Um cheiro. Aqueles perfumes, que quando se cruzam comigo me fazem olhar para trás. O nosso. Terra molhada.

Um momento. Muitos mais que um. O por do sol. A madrugada. O recolher de um dia de praia. O Natal. Todos os dias Natal. Aproveitar cada dia ao máximo. Sorrir, chorar quando assim tiver que ser, nunca desistir e sempre, sempre sentir. Partilhar acima de tudo, uma troca de favores do coração.

Uma dor. A saudade. Esse veneno sazonal, inesperado, intemporal. Sempre a saudade. A saudade do que poderia ter sido "se" "se" "se". Que SE dane. Nada resolve a saudade. Julga-se que o melhor remédio é esquecer (claro que é, dá pouco trabalho). Mas não, na verdade o importante é mesmo ter a capacidade de perdoar.

Um sentimento. Amor. E ainda mais amor.

Uma cor. Cor de laranja. Branco e lilás. Cereja, lábios cor de cereja. Moreno. Dourado. Cor de fogo.

Uma parte. Partes felizes. As costas. O jardim. As mãos e os braços. Toda a parte. A melhor parte. A parte final.

Um sabor. Chocolate. Mousse de manga. Café. Romã. Vinho. Senhor traga-me vinho!

Uma textura. Cereais secos, soltos, em sacas em mercearias castiças. Adoro mergulhar a mão nessas sacas, e discretamente sentir todos aqueles pequenos grãos rolarem entre os dedos. Superfícies exageradamente lisas. Casca de árvore. Fruta. Uma barba por fazer. Pele bem hidratada. Bolas de Natal. As de vidro então são demais.

Um lugar. Ao sol. Praia. Campo. Acolhedor. Com cores quentes. Um quarto, numa torre em ruínas, num deserto sem fim. A serra. Há quem lhe chame o pulmão da cidade. A serra no último dia do ano. A serra e ele. E ele comigo, na serra. Recordo-me da luz e das sombras da sua cara. E era o final de um ano. E foi a aproximação do final da canção.

Um desejo. Uma vida serena e feliz. Talvez uma casa modesta no campo. Uma pequena família, um grande amor. Dois, três filhotes... quem sabe. Uma boa mãe, boa esposa. Um pai presente, dedicado, amor. Um projecto original inovador. Tempo. Que os dias se tornem maiores e a vida ganhe tempo. Uma velhice serena, lúcida, num paraíso qualquer da paz, acompanhada. Uma velhice de barriga cheia de vida, momentos, sentimentos, boas recordações.

Uma música. Tantas músicas e cada uma delas associada a determinado tempo, cheiro, momento, dor, cor, parte, sabor, textura e lugar.

Desejo.

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