sábado, 7 de maio de 2011


Vi-me completamente desesperada, naquela barulhenta avenida.
Atravessei a estrada, sem conseguir conter as lágrimas.
Mais que raiva dele, senti raiva de mim.
Caminhava com a sensação de não ter força se quer para chegar à paragem do autocarro que estava ali a vinte metros de mim, quando ouvi um leve buzinar de um carro que se havia encostado a mim mais que os outros. Olhei, e entre as lágrimas a primeira coisa que conseguir ver, foi alguém vestido de branco. Tentei focar melhor a imagem. E vi que um dos meus anjos da guarda acenava a cabeça, convidando-me a entrar. Abri a porta, entrei. Chorei, chorei nos primeiros minutos. Perguntou-me: "Quem te fez ficar assim?" Sem conseguir levantar a cabeça, respondi que tenho um problema: apaixonar-me sempre pelas pessoas erradas. Respondeu-me, que provavelmente eu estou a atravessar uma fase, pela qual ele também já passou, em que sempre que surge alguém novo na nossa vida, ponderamos sempre se esse alguém é o tal. E para não me preocupar mais, e para não chorar mais. Rodou-me um charuto. Pensei: "Será isto mesmo real? Saí há mais de dez minutos e já não havia ninguém no escritório... De onde apareceste tu, 'salvador'?" Paraste à porta da minha casa. Tiraste o cinto, fintaste-me nos olhos e passando-me a mão pela cara disseste: "Não gosto nem te quero ver assim!" Relembraste-me que homens há muitos, e o truque é efectivamente saber escolhê-los. Falámos sobre os nossos trabalhos, os nossos amigos, sobre nós os dois, e só me deixaste sair do carro, quando te certificaste que eu estava mais calma.
Passados dois dias, ainda não consigo perceber como é apareceste do nada, quando mais precisava de ti, sem que tu o soubesses.
Ou será que sabes?
Lembraste-me que afinal até não sou a pior pessoa do mundo.
Moro numa casa fantástica, tenho amigos que valem ouro (sendo tu um deles), trabalho e até aí fizeste questão de frisar a minha evolução, tenho saúde, e tenho uma vida inteira pela frente.
Despediste-te com um beijo.
Entrei em casa e chorei como se não houvesse amanhã durante dez minutos, até que uma das minhas amigas, se aproximou, ofereceu-me o seu colo, e com a cabeça deitada nas suas pernas, chorei o resto que havia por chorar.
Até que levantei a cabeça, limpei os restos do choro, abracei-a em tom de obrigado.
Decidi que o melhor seria ir espairecer.
Resolvi enviar uma mensagem ao anjo-da-guarda para lhe dizer que todos os dias agradeço a alguém cujo nome desconheço, o facto de ter alguém como ele na minha vida.
Fui-me arranjar, e saí. Jantei fora com uma das pessoas que melhor me perceber e fomos sair.
Apanhei das maiores molhas da minha vida, e eu, que nada gosto de apanhar chuva, à medida que íamos rasgando aquela cortina, quase que tive a sensação, que chovia de propósito, para que eu fosse "limpa" de certa forma. Encontrei gente que já não via há algum tempo, e acabei a noite a rir e dançar.
Sábado, não foi um dia fácil.
Senti que era tempo de assimilar, arrumar, apagar, esquecer e redescobrir-me enquanto pessoa e enquanto mulher.
Levei dois dias para conseguir escrever isto aqui. Mas só hoje me senti capaz de o fazer.
Senti-me seca de mais, as palavras não fluíam e por momentos tive medo disso. Por vezes sinto-me fria mais que nunca, sinto-me seca.
Sinto que perdi toda a capacidade de amar e ser feliz.
Mas essa sensação é sempre mera consequência de uma fase menos boa.
Eu consigo ter todas as capacidades que quiser.
Porque aquilo que eu posso ser, depende única e exclusivamente de mim, da minha força de vontade, da minha fé, dos meus ideais, dos meus princípios e dos valores que defendo.
Nada nem ninguém é melhor que eu.
Somos todos diferentes, e o truque é a simplicidade e aliada a ela o amor.
Para ser imprescindível há que ser diferente.

3 comentários:

  1. O amor dá cabo de nós e...o que não nos mata, torna-nos mais fortes ;)

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  2. Minha querida Martinha, sempre a animar-me, sempre com uma palavrinha doce!

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  3. Pato...estou encantada com a tua escrita...uma vez mais ORGULHO DO CAMANDRO!!!

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