Ainda mal consigo acreditar em toda esta confusão.
Só hoje ao rever fotografias tuas da fase em que melhor me lembro de ti, percebi que partiste para sempre e doeu-me tanto o peito, que por momentos nem consegui respirar.
E então lembrei-me das vezes em que, depois de um dia de escola, seguia-te até à estação, onde todos os dias apanhávamos a camioneta que nos levava de volta à aldeia onde crescemos.
És três anos mais velha que eu, e apesar de termos andado juntas na escola primária, quando mudaste de escola, essa diferença de idades parecia maior. E daí eu seguir-te, a ti e aos nossos amigos da tua idade, porque eu ia com os mais pequenos, os da minha idade portanto.
Não sei se hoje em dia, as gerações mais novas, ainda respeitam a hierarquia do trajecto aldeia-cidade, desde os espaços nas paragens, aos bancos da camioneta, à marcha que todos os finais do dia acontece, das escolas para a estação. A mim nunca me pareceu mal, até porque, para mim a idade é de facto um posto, e logo aí mercedora de todo os respeito, sobretudo quando uma criança de 10 anos pensa desta forma. E passado algum tempo, acabei por também ter o meu lugar marcado no banco de trás, e nessa altura já me angustiava pensar que isso representava que o fim daquelas viagens, que por vezes pareceram não ter fim, estava muito próximo. Não cheguei a partilhar contigo, mas sonho em voltar a viver na nossa aldeias todos os dias.
Voltando então às caminhadas para a estação.....
de facto sempre foste muito à frente. Eras mesmo a mais alternativa da altura, e eu adorava o teu estilo, para além de achar divertido, ficava-te bem, e para mim eras mesmo uma fada gótica.
Os vestidos que usavas, sempre de cores escuras, com folhos e rendas, do alto das tuas Dr. Martin, quando andavas, davam a ilusão que te deslocavas a dançar de uma forma muito doce e suave.
Uns anos mais tarde, tornaste-te sem dúvida alguma uma das pessoas da aldeia com quem mais me identificava, e apesar de não sermos muitos próximas (ainda que me lembre de te ver várias vezes lá em casa), eu gostava de falar contigo, e achava-te muito interessante.
Entretanto vieste morar para a grande cidade... cheguei a ver-te algumas lá, e tenho quase a certeza que já comigo cá, nos chegámos a cruzar no metro. E a partir daí perdi-te o rasto. Cheguei a saber que tinhas sido mãe, mas nunca mais te vi. Penso que ainda trocámos umas palavras a propósito do nascimento do teu filhote, mas só virtualmente.
E esta semana recebo esta horrivel noticia, na qual não consigo parar de pensar.
Partiste para sempre, e levaste o teu filhote contigo.
A tua cara repete-se em todos os jornais do quiosque, em todos os sites de noticias, nas redes socias. Fotografias das turminhas do infantário, da escolar primária, só tuas, tuas e com o teu filhote... agonia-me pensar no desespero que tiveste de passar para fazeres a escolha que fizeste. Porque tu nunca irias fazer uma coisa destas se não tivesses um motivo muito forte mesmo.
E por isso determinadas coisas que estão nos jornais, a mim dão-me nojo, alias tudo o que foi publicado é um nojo. Porque numa altura destas, já tão confusa por si, é de longe a melhor para se ser atacada pelo jornalismo da pior espécie.
Tenho pena de nunca mais te ter visto, de nunca ter chegado a conhecer o teu filho, e de saber que agora isso nunca irá acontecer.
Vou recorder-te sempre sempre como a mais bonita fada gótica, de sorriso doce, com as tuas caracteristicas covinhas nas bochechas.
Até já Marta!
Minha linda, estive fora uns dias e agora com a E. doentinha estamos em casa de baixa até segunda. Vi a noticia no jornal e achei logo que devias conhecer (até perguntei ao meu homem se conhecia mas ele não se lembra) fiquei tão mas tão triste. Esta noticia deitou-me ao chão e não por ser daqui perto mas pelos contornos da situação, pelo desespero e claro por ser uma mãe e seu filho. Gostava tanto de os ter ajudado de alguma forma, uma palavra amiga, um colo, sei lá... Só sei que para uma mãe cometer um acto destes levando o seu filho é porque estava mesmo desesperada, achava-se sem saída, sem como ou porques... Espero que onde estejam não sofram mais é uma sensação estranha a que sinto quando penso nisto e dói horrores cá dentro! Beijinhos e que a luz os ilumine para todo o sempre.
ResponderEliminarMinha linda, obrigada pelas tuas palavras. Esta história é mesmo horrivel... Um beijo enorme*
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