quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Até já Marta


Ainda mal consigo acreditar em toda esta confusão.
Só hoje ao rever fotografias tuas da fase em que melhor me lembro de ti, percebi que partiste para sempre e doeu-me tanto o peito, que por momentos nem consegui respirar.
E então lembrei-me das vezes em que, depois de um dia de escola, seguia-te até à estação, onde todos os dias apanhávamos a camioneta que nos levava de volta à aldeia onde crescemos.
És três anos mais velha que eu, e apesar de termos andado juntas na escola primária, quando mudaste de escola, essa diferença de idades parecia maior. E daí eu seguir-te, a ti e aos nossos amigos da tua idade, porque eu ia com os mais pequenos, os da minha idade portanto.
Não sei se hoje em dia, as gerações mais novas, ainda respeitam a hierarquia do trajecto aldeia-cidade, desde os espaços nas paragens, aos bancos da camioneta, à marcha que todos os finais do dia acontece, das escolas para a estação. A mim nunca me pareceu mal, até porque, para mim a idade é de facto um posto, e logo aí mercedora de todo os respeito, sobretudo quando uma criança de 10 anos pensa desta forma. E passado algum tempo, acabei por também ter o meu lugar marcado no banco de trás, e nessa altura já me angustiava pensar que isso representava que o fim daquelas viagens, que por vezes pareceram não ter fim, estava muito próximo. Não cheguei a partilhar contigo, mas sonho em voltar a viver na nossa aldeias todos os dias.
Voltando então às caminhadas para a estação.....
de facto sempre foste muito à frente. Eras mesmo a mais alternativa da altura, e eu adorava o teu estilo, para além de achar divertido, ficava-te bem, e para mim eras mesmo uma fada gótica.
 Os vestidos que usavas, sempre de cores escuras, com folhos e rendas, do alto das tuas Dr. Martin, quando andavas, davam a ilusão que te deslocavas a dançar de uma forma muito doce e suave.
Uns anos mais tarde, tornaste-te sem dúvida alguma uma das pessoas da aldeia com quem mais me identificava, e apesar de não sermos muitos próximas (ainda que me lembre de te ver várias vezes lá em casa), eu gostava de falar contigo, e achava-te muito interessante.
Entretanto vieste morar para a grande cidade... cheguei a ver-te algumas lá, e tenho quase a certeza que já comigo cá, nos chegámos a cruzar no metro. E a partir daí perdi-te o rasto. Cheguei a saber que tinhas sido mãe, mas nunca mais te vi. Penso que ainda trocámos umas palavras a propósito do nascimento do teu filhote, mas só virtualmente.
E esta semana recebo esta horrivel noticia, na qual não consigo parar de pensar.
Partiste para sempre, e levaste o teu filhote contigo.
A tua cara repete-se em todos os jornais do quiosque, em todos os sites de noticias, nas redes socias. Fotografias das turminhas do infantário, da escolar primária, só tuas, tuas e com o teu filhote... agonia-me pensar no desespero que tiveste de passar para fazeres a escolha que fizeste. Porque tu nunca irias fazer uma coisa destas se não tivesses um motivo muito forte mesmo.
E por isso determinadas coisas que estão nos jornais, a mim dão-me nojo, alias tudo o que foi publicado é um nojo. Porque numa altura destas, já tão confusa por si, é de longe a melhor para se ser atacada pelo jornalismo da pior espécie.
Tenho pena de nunca mais te ter visto, de nunca ter chegado a conhecer o teu filho, e de saber que agora isso nunca irá acontecer.
Vou recorder-te sempre sempre como a mais bonita fada gótica, de sorriso doce, com as tuas caracteristicas covinhas nas bochechas.
Até já Marta!    

2 comentários:

  1. Minha linda, estive fora uns dias e agora com a E. doentinha estamos em casa de baixa até segunda. Vi a noticia no jornal e achei logo que devias conhecer (até perguntei ao meu homem se conhecia mas ele não se lembra) fiquei tão mas tão triste. Esta noticia deitou-me ao chão e não por ser daqui perto mas pelos contornos da situação, pelo desespero e claro por ser uma mãe e seu filho. Gostava tanto de os ter ajudado de alguma forma, uma palavra amiga, um colo, sei lá... Só sei que para uma mãe cometer um acto destes levando o seu filho é porque estava mesmo desesperada, achava-se sem saída, sem como ou porques... Espero que onde estejam não sofram mais é uma sensação estranha a que sinto quando penso nisto e dói horrores cá dentro! Beijinhos e que a luz os ilumine para todo o sempre.

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  2. Minha linda, obrigada pelas tuas palavras. Esta história é mesmo horrivel... Um beijo enorme*

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